A Hanseníase antigamente conhecida como Lepra, é considerada uma das mais antigas doenças, havendo registros de casos há mais de 4000 anos, na China, Egito e Índia. Apenas no ano de 1873, o médico norueguês, Armauer Hansen, identificou que um bacilo como agente causal.
A Índia é o país mais atingido e o Brasil está em segundo lugar no mundo. Na Paraíba são registrados cerca de 600 casos novos/ano.
A Hanseníase é uma doença infecto-contagiosa de evolução lenta, causada por uma bactéria, o Mycobacterium leprae. A transmissão ocorre pelo contato direto com o doente com formas bacilíferas, ou seja, com formas da doença que eliminam bacilos através de gotículas de saliva ou secreção nasal. Entre o contato com o bacilo e o surgimento das primeiras manifestações (período de incubação) pode decorrer um longo tempo que varia de seis meses a cinco anos.
A doença afeta a pele e os nervos periféricos, por isso surgem lesões dermatológicas com redução da sensibilidade, inicialmente térmica, e com a evolução ocorre alteração da sensibilidade dolorosa e tátil. Além disso, o acometimento dos nervos, determina redução da produção de suor nas lesões, que por isso ficam ressecadas, queda dos pêlos (alopecia localizada), redução da força em determinado segmento do corpo e deformidades, sobretudo se o diagnóstico não for realizado e o tratamento instituído precocemente. Em virtude da alteração da sensibilidade, os pacientes se queimam e/ou sofrem traumas diversos e não percebem, evoluindo com úlceras nos pés (mal perfurante plantar).
Segundo a OMS, um caso de hanseníase deve ser considerado quando o indivíduo apresenta: lesões de pele com alteração da sensibilidade ou acometimento de nervos com espessamento neural ou baciloscopia positiva.
As lesões dermatológicas podem variar de aspecto e número de acordo com a forma da Hanseníase (indeterminada, tuberculóide, dimorfa, virchoviana) o que para olhos pouco treinados pode representar uma dificuldade. Para facilitar o reconhecimento, diagnóstico precoce da Hanseníase, e sistematização do tratamento, a OMS instituiu a classificação operacional com base no número de lesões de pele, assim quando o paciente tem menos de 5 lesões é classificado como portador de hanseníase paucibacilar, e mais de 6 lesões hanseníase multibacilar.
Existem duas formas de Hanseníase que se apresentam com menos de 5 lesões, ou seja paucibaucilar:
A) Hanseníase indeterminada: corresponde ao estágio inicial da doença e se apresenta como uma mancha mais clara que o tom da pele, por vezes mal delimitada, com alteração da sensibilidade.
B) Hanseníase tuberculóide: as lesões se apresentam como uma placa fácil de delimitar, com bordos mais evidentes, por vezes rosados (eritematosos) com alteração da sensibilidade. O paciente pode apresentar dor em virtude da inflamação dos nervos, denominada neurite.
Quando o paciente apresenta mais de 6 lesões na pele (hanseníase multibacilar), duas formas devem ser pensadas:
A) Hanseníase borderline ou dimorfa: caracteriza-se por placas infiltradas cuja cor varia do eritema à ferrugínea, com bordos internos bem delimitados e externos pouco definidos.
B) Hanseníase virchowiana: surgem placas e nódulos em qualquer parte do corpo, inclusive na face. O rosto e orelhas tornam-se infiltradas, ocorre perda dos pêlos dos cílios e das sobrancelhas (madarose), aspecto chamado de fácies leonina.
Durante o curso do tratamento ou até mesmo após a alta, podem ocorrer fenômenos inflamatórios que levam a exacerbação das antigas e surgimento de novas lesões, inchaço nas mãos/pés, dor nos nervos e articulações, mal estar, febre, além de outros sintomas, processo chamado de Reação Hansênica.
Apesar de tratar-se de doença milenar, ainda hoje o preconceito por parte da sociedade ainda existe, e precisa ser vencido. Apenas as formas multibacilares são contagiosas, no entanto após a primeira dose da medicação não há mais transmissão.
A Hanseníase tem cura e o tratamento é gratuito, fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O tempo de tratamento depende da forma apresentada pelo paciente.
A melhor forma de prevenção das deformidades é o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.
Todos os contatos intradomiciliares do paciente com Hanseníase devem ser examinados e seguidos por 5 anos. Caso não apresentem cicatriz da vacina BCG (vacina indicada contra tuberculose), devem recebê-la, com objetivo de reduzir risco de desenvolver formas graves da doença e a rede de transmissão.
Autora:
Yanne Moreira Leite Loureiro
Aluna do 8º Período do Curso de Medicina
Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba
Referências:
https://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e-problemas/hanseniase/9/
AZULAY, R. D; AZULAY, D. R Dermatologia, 7. Ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogam, 2017.